Guardei alguns textos que de vez em quando releio escritos num outro blog, de outros tempos da M.
Hoje vou publicar um desses textos que me despertou uma especial atenção.
"Tenho por hábito estudar a minha vida. Sei que quando remexo bem lá no fundo do baú encontro alguma coisa e aprendo sempre mais. Aprendi que ao reviver a minha vida vezes sem conta não encontro factos mas momentos. Momentos , sítios , olhares ou certas expressões inesquecíveis que só vemos uma ou duas vezes na vida. Movemo-nos sem pensar que arrastamos connosco imagens que nos tornam um cárcere do vazio emocional. Pensamos que A ou B nos magoou , nos fez sofrer mas nunca nos lembramos de X ou Y que fizemos sofrer..Lembrei-me disso esta semana quando encontrei alguém que magoei com um não simples e definitivo de quem nunca quis nada, sempre fui fiel... Engraçado como quem eu fiz sofrer perdeu todos os vestígios em mim mas ao falar com ele a memória habitou-me.Conversamos de forma natural mas o vidro , a barreira do passado estava entre nós. Tenho a consciência de que nunca fiz falsas promessas , nunca lhe escondi o que queria , o que não queria , nunca lhe escondi que o que sentia por mim era em vão.Da boca dele nem uma censura mas a forma como ele fraseava tinha por trás uma comunicação muda que para mim era audível .Já tinha sido há tanto tempo ,estranho como moramos perto e nunca nos encontramos....mas o acaso fez-me valorizar o que ele sentiu com a minha negação . Afinal a forma como se sofre por alguém é igual na condição humana tornando assim a nossa vida num labirinto. Nesse labirinto somos todos vítimas uns dos outros , não importa se somos mulheres ou homens. Poucos saem do labirinto em pouco tempo e vão de encontro ao mar onde este se abre e nos mostra o caminho. O meu mar abriu-se aos poucos diariamente , fui perdendo o peso supérfluo de emoções e hoje não julgo , não interrogo , não espero nada dos outros e o ritmo da minha vida vai acelerando.Ao falar com ele consegui ver que o doloroso se transforma em paz desde que encaremos a vida com clareza de espírito . Todos sobrevivemos ao mais duro golpe , às maiores desilusões.Por vezes temos que nos perder para nos encontrarmos , eu corri e corro por um caminho muito deserto onde tento a todo custo lembrar-me de quem sou, ainda assim sempre fiel.Entrei num mundo sozinha , no meu mundo cheio de reservas, onde dou sem esperar nada em troca , sem deslumbramentos ou ilusões. O mesmo mundo em que ele entrou e onde nos tornamos uns completos desconhecidos...."
Eu ainda me deslumbro, ainda dói, ainda dou e espero algo em troca, afinal parece que o meu problema é não ter largueza de espírito.
POSTED BY H.
